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Rosa é a cor da moda – pelo menos quando se trata de bebidas. Já tem uma porção de brasileiras e brasileiros usando e abusando do chá da flor de hibisco. Seu sabor até divide opiniões, mas não há como negar que a planta, além de belíssima, carrega uma promessa e tanto: dar uma força ao emagrecimento. Não é por menos que o hibisco decolou no mercado. A loja online de produtos naturais Natue registrou aumento de 30% nas vendas do chá entre os verões de 2017 e 2018.
Não que a planta seja exatamente uma novidade. O Hibiscus sabdariffa L., espécie que rende a bebida, é uma flor de tons avermelhados originária da Índia e da Malásia — aliás, há diversos outros tipos de hibisco exclusivamente ornamentais. “Ela se espalhou pela África e foi trazida para o Brasil na época do tráfico de escravos”, ensina a nutricionista Orion Araújo, mestre em alimentação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Mas o hibisco só começou a chamar atenção fora do jardim quando pesquisadores descobriram algumas de suas peculiaridades nutricionais. “Eles identificaram um teor elevado de compostos fenólicos, principalmente as antocianinas, ácidos orgânicos, vitaminas e minerais, todos aliados na prevenção do estresse oxidativo das células”, explica Orion. Em resumo, o chá tem componentes que ajudariam a afastar males ligados ao envelhecimento.
Após receber o status de fitoterápico, o hibisco despontou para a fama por outra suposta propriedade: queimar gordura e reduzir medidas. E o curioso é que o benefício mais alegado por aí ainda não tem respaldo científico. “Não há estudos relevantes feitos em humanos que atestem esse efeito emagrecedor”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “As pessoas esperam milagres, mas essa planta não tem qualquer influência sobre a queima de calorias nem auxilia na quebra das gorduras do corpo”, afirma a nutricionista Vanderli Marchiori, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia.
Isso não significa que o chá de hibisco deixou de ser um bom companheiro da dieta. Ele tem seus trunfos, a começar pelo fato de ser zero caloria.
“Mas a maior vantagem é o fato de que seus polifenóis, como as antocianinas por trás da cor vermelha, combatem inflamações, um problema para quem está acima do peso”, destaca Vanderli. “E a planta ainda tem quercitina, substância que ajuda a evitar a retenção de líquido”, completa.
Existem pesquisas em andamento para atestar a teoria de que o hibisco diminui o estoque de gordura corporal. As evidências por enquanto se resumem a experimentos com ratinhos.
Chá de hibisco é bom para quê?
O ponto é que o hibisco não precisa nem deve ser usado só por quem deseja perder peso. “O chá tem antioxidantes e é ótimo para melhorar a hidratação”, acredita Maria Fernanda.
E o sabor levemente avinagrado da infusão natural — não à toa a planta também é conhecida como vinagreira — é bem-vindo para a digestão. É que essa característica faz o estômago liberar mais suco gástrico para quebrar os alimentos. “E isso evita aquela sensação de peso depois das refeições”, diz Vanderli.
Embora a ciência não assine embaixo dessa história de queima da gordura, outros benefícios para a saúde já são descortinados. De acordo com a nutricionista Clarissa Fujiwara, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a combinação de substâncias como as antocianinas e a quercetina dá um empurrão para a capacidade diurética, o que reduz a retenção de líquido e a pressão arterial. Pessoas hipertensas, portanto, podem conversar com o médico para saber se vale a pena incluir umas xícaras no dia a dia.
Pequenos experimentos sedimentam o papel da flor como protetora cardiovascular. “Já se observou que indivíduos que tomam o chá frequentemente apresentam uma redução nos níveis de triglicérides”, exemplifica Vanderli. As taxas de colesterol também tendem a ficar mais ajustadas quando a infusão se soma a outros hábitos saudáveis. “Isso por causa dos flavonoides do chá, os mesmos presentes na uva e no vinho tinto”, explica o cardiologista Guilherme Sangirardi, da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.
Os especialistas não apontam contraindicações, mas é preciso prestar atenção à quantidade: as vantagens viriam com a ingestão de no mínimo 500 mililitros e no máximo 1 litro do chá por dia — considerando uma colher de sopa do extrato. “Mais do que isso poderá causar quedas bruscas na pressão, tontura, cãibras e até desmaios, especialmente em grávidas”, alerta Clarissa. O aumento de produção e escoamento de urina também pode interferir com o efeito de remédios.
Outros benefícios possíveis
Pressão alta: um estudo americano mostrou que o chá de hibisco melhora o controle da hipertensão após seis semanas de utilização.
Inchaço: há bons indícios de que alguns flavonoides do vegetal têm ação diurética e enfrentam a retenção de líquido.
Colesterol: um trabalho feito por cientistas iranianos associa a ingestão do chá com o aumento do colesterol bom (HDL) e a queda da versão ruim (LDL).
Pedra nos rins: a infusão ajuda a hidratar, o que, junto ao efeito diurético, diminuiria o risco de cálculos renais. É o que sinaliza outra pesquisa do Irã.
Infecções: experimentos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul indicam que o hibisco tem compostos fitoquímicos antibacterianos.
Os produtos à base de hibisco mais vendidos
De promessas emagrecedoras a benesses estudadas, são muitos os motivos que fazem do hibisco um sucesso no mercado natural. Flávia Morais, gerente de nutrição e desenvolvimento de produtos da rede Mundo Verde, conta que a flor já responde sozinha por 1% do faturamento da empresa.
Na linha dos mais vendidos estão os chás — entram na conta o extrato da flor desidratada, sachês e a versão solúvel. “Se puder escolher, opte pelos extratos secos para infusão porque eles preservam melhor os compostos fenólicos e não têm aditivos químicos”, aconselha Orion Araújo.
Além do chá em si, o preparo pode virar base para sucos, kombuchás, picolés e o que mais a imaginação permitir — os ativos não se perdem em até 24 horas. “Em casos específicos, o profissional de saúde pode prescrever o consumo em cápsula para garantir a absorção de 100% dos compostos”, diz a nutricionista.
Também há um volume cada vez maior de produtos que levam a planta na fórmula. Só na Mundo Verde são 5 mil itens, sendo 200 deles com a marca da casa. “A variedade é extensa. Temos de chocolates a whey protein com hibisco”, conta Flávia.
Para desfrutar dos efeitos, porém, a sugestão de Vanderli e outros experts é combinar tais alimentos ao uso do chá, que é onde se concentram as substâncias bem-vindas. Até porque o fato de ter um pouco de hibisco não garante que a formulação do alimento como um todo seja balanceada — o que, segundo Orion, vira um desperdício.
Então já sabe: tem de ficar de olho no rótulo! Por fim, não adianta pensar que a planta, sozinha, salva a pátria. “Para que seus antioxidantes sejam absorvidos pelo organismo, devemos manter uma alimentação rica em vitaminas, minerais e fibras”, frisa a profissional do Rio. É nessas condições que o hibisco vai deixar a vida mais colorida e saudável.
Manual do chá de hibisco perfeito
- A proporção de extrato seco da planta e de líquido é importante. Use uma colher de sopa para cada litro de água.
- Espere a água ferver e, só então, adicione a erva.
- É preciso manter a fervura por mais 5 minutos antes de desligar o fogo.
- Depois de coar, você pode decidir se prefere ou não adoçar. Para muita gente, o chá puro já tem um sabor agradável.
- A bebida não precisa ser consumida na hora — os ativos se mantêm até 24 horas. Também pode ser gelada ou misturada a sucos.
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